Me sinto uma pessoa extremamente sortuda por ter tido a chance de começar tudo de novo.
Quando se tem 17 anos, a coisa mais difícil é decidir. Decidir se vai assistir Naruto ou Bleach, se vai viajar pra praia ou pro Canadá, se vai sair com os amigos ou ficar em casa o dia inteiro de pijama. E então te obrigam a decidir o que você vai ser para o resto da vida.
Aos meus 17 anos, a única coisa que eu sabia era o que não queria fazer. E praticamente tudo se encaixava nesse critério. "Você tem que fazer o que você gosta", eles disseram. Mas eu não gostava de nada. N-A-D-A. Eu era adolescente. Adolescentes não gostam de nada.
Depois de muito pensar, decidi por um curso qualquer. "A faculdade vai ser super legal", eles disseram. Só esqueceram de me avisar que eu deveria fazer amigos. Logo eu, a antissocial. Olhei para um, lado... olhei para o outro... e só vi meninas. Nenhum menino no curso que eu escolhi. Logo eu que só tinha amigos homens e só sabia conversar de assuntos de menino; que só tinha um batom e usava esmalte só pra ir em casamentos.
Não preciso nem dizer que a faculdade foi um choque para mim. Fui bombardeada com cores de esmalte, nomes de atores bonitos e histórias sobre namorados. Enquanto minhas novas colegas entrosavam e se divertiam, eu pensava em mokonas, guitarras, doboks e kanjis. Resolvi, então, me concentrar nas matérias super legais que eu teria na faculdade.
Imaginando que iria estudar anatomia, fisiologia e histologia, comprei cadernos novos, e cheguei super empolgada. As matérias que me esperavam, porém, eram geoeconomia, ética e ecologia. Assim, continuei sendo adolescente e não gostando de nada.
Isso se perpetuou por anos, até que tive a oportunidade de estagiar em um hospital. Me encantei por tudo, e encontrei coisas que me despertavam curiosidade e vontade de aprender mais. Com um empurrãozinho do meu namorado (e melhor amigo), criei coragem e admiti para mim mesma que gostava de algo além de anime, rock, taekwondo e japonês, Encarei o desafio, transformei todo o ódio em amor e decidi que o único jeito de consertar os erros da adolescência rabugenta era começar de novo.
E comecei.